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Fisioterapia Bucomaxilofacial  – O papel do fisioterapeuta na DTM (PARTE I)

A Fisioterapia Bucomaxilofacial é uma área muito ampla e que vem ganhando cada vez mais espaço. Requer formação e pós-graduação e atualmente não é reconhecida pelo COFFITO como especialidade profissional. Pelo órgão ainda é reconhecida como Fisioterapia orofacial, porém não abrange todas as áreas de atuação.

Para prestar atendimento adequado são necessários conhecimentos e atualizações na área respiratória, UTI, neurologia e dermatologia. Os atendimentos  se iniciam desde a fase de pré-operatório até a recuperação pós – hospitalar, atuando na melhora do quadro álgico e recuperação da funcionalidade muscular e articular.

O ideal é sempre o trabalho inter ou multiprofissional. Diversos profissionais como dentista, cirurgião bucomaxilofacial, cirurgião craniofacial, otorrinolaringologista, pediatra e até cirurgião plástico devem se alinhar em relação aos processos de conduta do paciente.  

A fisioterapia bucomaxilofacial é indicada para pacientes com afecções faciais,  pós-operatórios de cirurgias de buco, cirurgias craniomaxilofaciais, disfunções neurológicas da face, cirurgias plásticas, oncológicas, ortognáticas, anomalias craniofaciais, cefaléias, cervicalgias e as disfunções temporomandibulares (DTM). 

Dentre esses casos, as DTMs são as mais conhecidas e mais comuns na área bucomaxilofacial.  

Disfunções Temporomandubulares (DTM)

Segundo a American Academy of Orofacial Pain (2018), a DTM é definida como um conjunto de distúrbios que envolvem os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) e as estruturas associadas. 

Estudos relatam que cerca de 50 a 75% da população mundial apresentará ao menos um sinal ou sintoma de DTM, como ruídos e dor ou desconforto na face ou na ATM. 

Sinais e sintomas:

  • Sensibilidade muscular e da ATM à palpação
  • Limitação e ou descoordenação de movimentos mandibulares;
  • Ruídos articulares;
  • Dores locais (Face, ATM, MM. Mastigatórios);  
  • Cefaléia;
  • Dores na orelha
  • Manifestações otológicas como zumbido, plenitude auricular e vertigem.  

Entenda a biomecânica da ATM:

O funcionamento correto da ATM se dá graças às estruturas ósseas do crânio e mandíbula, separadas por um disco articular preso por ligamentos, músculos e inervação, além de uma rica vascularização. Todas estas estruturas são protegidas por uma cápsula articular internamente revestida por uma membrana sinovial, que secreta e confina o líquido sinovial, responsável pela lubrificação, suprimento nutricional e metabólico para a ATM, permitindo movimentos suaves durante a mastigação, deglutição e fala. 

A complexidade desta articulação se dá por envolver diversas estruturas e funções. Os movimentos demandam o trabalho sincronizado de seus  componentes estruturais associados a componentes biomecânicos, tornando essa articulação vulnerável a alterações funcionais que levam a desarranjos como a disfunção temporomandibular. 

Não há uma causa única para o desenvolvimento da DTM, pode ser classificado como multifatorial com a interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos e comportamentais. 

Fatores de risco:

  • Hábitos parafuncionais (ações realizadas sem uma função reconhecida como essencial para o ser humano – “vícios”, como por exemplo: roer as unhas, levar os dedos a boca, etc.) ;
  • Traumas (Macro, Micro, SDC);
  • Alterações estruturais;
  • Transtornos emocionais;
  • Distúrbios do sono;
  • Problemas sistêmicos; 
  • Bruxismo (diurno e/ou noturno)

Renata Luri, Fisioterapeuta na Clínica La Posture e Doutora em Ciências da Saúde pela Unifesp 

Bruna Farias Barreto, Fisioterapeuta na Clínica La Posture e graduada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)  

 

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